1 de dezembro de 2011

Minha menina

Minha menina, eram quantos 15, 19, 26 anos? Uma resposta diferente a cada dia e, há alguns dias não sabia a idade certa, um modo de enganar a velhice, ou se enganar contra a mesma, sei que o mal que a ti foi dado, não merecido, não deixou você envelhecer, muito pelo contrário, voltaste a ser criança, a qual as vezes eu não tinha paciência de lidar, a qual eu deixei de lado por motivos fúteis, a qual me amou demais, me cuidou demais, a qual eu não cuidei o tanto que precisava. Espero que tenhas ouvido minhas desculpas aos ouvidos, não sabia se tinhas ouvido no direito, então disse-lhe as mesmas coisas no esquerdo, mesmo assim não tive a certeza, já não se movia e mal abria seus olhos de olhares tristes. Hei de lembrar-te pra sempre, minha querida, e que esse mal que lhe veio, maldito Mal de Alzheimer, não chegue em pessoas de bom coração como o que tinhas, que ninguém passe por tamanho sofrimento, que o esquecimento seja breve, e que não sintam-se tristes como ficaste, que não precisem trocar o garfo por uma colher e depois por uma seringa, por um conta gotas e por fim por um algodão úmido, que esse mal, não merecido, que a ti foi dado, não te tenhas doído o tanto que parecia doer. Queria poder entender as palavras que você já não conseguia dizer, queria ter sido melhor pra você, minha avó, ninguém merece morrer aos poucos, minha menina, muito menos você, uma enfermeira mais que profissional, mais que humana, mas se alguém tiver a infelicidade de tê-lo também que seja cuidado e amado como foste tu.